sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O fim da paisagem em Portugal


Fotografia realizada no Parque Natural do Alvão. 3 em 1... Postes eléctricos + Ventoinhas + Comunicações.
A Serra da Lousã e a Serra do Açor, entre muitos outros locais, são uma aberração paisagística.


Portugal nunca foi um país com paisagens grandiosas de cortar a respiração, com alta montanha, ou vales profundos e longos como acontece em inúmeros países da Europa, ou noutros Continentes. Apesar de tudo e, da nossa dimensão, tínhamos algumas bonitas paisagens em duas grandes áreas, a terrestre e a litoral. Se a zona litoral ainda tem resistido a diversos tipos de humanização, o mesmo não se poderá dizer da área terrestre, que tem sofrido verdadeiros abusos.
O fim da paisagem terrestre está por muito pouco, são raríssimos os locais onde é ainda possível fazer uma fotografia abrangente, e com profundidade sem que se apanhe, por exemplo, uma ventoinha (turbina eólica)
Além dos postes de alta e média tensão, das torres de telecomunicações, das torres de observação de incêndios, agora assumem, também o estatuto de invasão, os parques eólicos. Estão por tudo o que é cumeada. Mesmo estando fora dos parques naturais a sua presença massiva nos arredores destas áreas classificadas, é tão grande que é difícil apontar a objectiva sem encontrar uma “ventoinha” no enquadramento.
Já ouvi a triste teoria, um pensamento muito primário, que uma única ventoinha em cima de uma cumeada, pode ter apenas como objectivo, ir habituando as pessoas a essa nova realidade. É como saber que um dia irei morrer e como tal, é melhor activar um alarme no meu telemóvel para me lembrar mensalmente que um dia irei morrer.
Quando tiver que ser erguido um parque eólico numa determinada zona, que seja feito de uma só vez e de forma compacta, agora ir plantando ventoinhas de Norte a Sul do país só para ir mentalizando... é uma verdadeira aberração.
Não sou contra os parques eólicos, agora sou contra a dispersão avulsa destas infra-estruturas, e da falta de ordenamento que grassa de forma assustadora pelo nosso território. A Serra da Lousã é um bom exemplo do verdadeiro caos de ordenamento. Chega a ser perturbador e mesmo revoltante ver tanta balda no ordenamento, numa serra que poderia estar mais cuidada, bonita, cativante, respeitada e fonte de rendimento pela vertente do bom turismo de natureza.


Imagem captada no Parque Natural de Montesinho (Serra de Montesinho). As ventoinhas já estão em território espanhol. A poucos metros da fronteira este enorme parque eólico é sem dúvida um desconcertante atentado visual.

4 comentários:

Gonçalo Pereira disse...

Experimenta ir à serra de Montejunto, onde se concentram as antenas dos emissores, os parques eólicos, quilómetros de cabos e a ruína do primeiro convento beneditino. É desconcertante!

Fuzhong! disse...

Outro exemplo de desordenamento é a serra de Montemuro, com eólicas omnipresentes.

Carlos Dias disse...

Há anos que tenho vindo a criticar esta política de destruição da cada vez mais pequena paisagem natural portuguesa. Agora, até mesmo uma paisagem protegida e Património Mundial da UNESCO está ameaçada pela suposta maior barragem do país: o vale do Rio Tua. O projecto já se encontra aprovado, faltando apenas a aprovação do Estudo de Impacto Ambiental.

Não basta só proteger espécies e ecossistemas. Há que preservar, também, as paisagens, sob pena de virmos a viver num Blade Runner demasiado precoce, onde os nossos filhos e netos não conhecerão belas paisagens "a perder de vista".

E o que se passa no vale do Rio Tua abre um precedente muito perigoso: o património mundial está a saque pelos políticos e empreiteiros.

Carlos Dias, fotógrafo de Natureza

Jorge Sousa disse...

Estive há pouco tempo na Serra da Lousã, local que visito todos os anos para fotografar veados, e fiquei indignado com a poluição eólica que ali se vive. É que não é só paisagisticamente! passei a noite na serra e o barulho dos motores, das pás e as luzes de sinalização, são um verdadeiro atentado à qualidade de vida da fauna ali existente. Este país não sabe parar... Jorge Sousa.